Do pianoforte ao piano moderno: breve história dos instrumentos com teclado
A tentativa de criação de instrumentos com teclado cujo som resulta da percussão de cordas data do Renascimento. Todavia, foi a partir do final do século XVII que a idealização desse tipo de instrumento começa a ganhar balanço. O italiano Bartolomeo Cristofori é apresentado como o criador do piano por volta de 1700. O instrumento foi designado por arpicimbalo di nuova inventione, o que indica a novidade à qual está associado. De acordo com os espécimes sobreviventes, assemelhava-se ao cravo, com o qual partilhava a estrutura. Pensa-se que as primeiras composições destinadas ao novo instrumento tenham sido publicadas no Sonate da cimbalo, di piano, e forte detto volgarmente di martelletti. Escritas por Lodovico Giustini di Pistoia e editadas em 1732, foram dedicadas ao Infante António de Portugal, filho de D. Pedro II e irmão de D. João V. Assim, o instrumento anunciava a chegada do Classicismo, período cuja expressividade se coadunava com as suas capacidades inovadoras. As mudanças abruptas encontraram no pianoforte (nome dado ao instrumento na época) um veículo privilegiado. Na segunda metade do século XVIII, a dedicação de muitos construtores transformou o pianoforte. Joelheiras que transformavam o som foram adaptadas e os materiais adoptados mudaram. Dessa forma, o novo instrumento conseguia projectar o som em espaços de maior dimensão. O desenvolvimento tecnológico introduziu mudanças significativas no Romantismo. A fixação das cordas numa estrutura de aço, a criação dos pedais e a disseminação da forma vertical do piano tornaram-no uma presença ubíqua nas salas de concerto e na vida familiar. O piano era tocado por músicos como Liszt e Chopin nas salas de concerto, teatros e salões e por amadores nas suas salas. Isso alimentou uma indústria de publicação de partituras. No início do século XX, a industrialização do fabrico de pianos disseminou o instrumento por vários espaços, dos cafés aos recém-criados cinematógrafos. Paralelamente, os primeiros pianos automáticos, mais conhecidos por pianolas, foram desenvolvidos. Nessa época, o instrumento manteve um lugar central na didáctica da música, que ainda hoje ocupa. Seria possível concebermos aulas de Composição ou de Formação Musical sem o recurso ao piano? Cidades como o Rio de Janeiro foram designadas por Pianópolis, o que evidencia a disseminação do instrumento no mundo. A sua omnipresença atravessa géneros musicais, dos musicais da Broadway ao tango. No século XX, compositores como John Cage reinventaram o instrumento, introduzindo mecanismos que alteravam as propriedades sonoras do piano. A década de 50 marcou a electrificação do instrumento, após algumas tentativas. Isso transformou o som da música popular, que rapidamente incorporou várias versões do piano eléctrico na música. O desenvolvimento de tecnologias de comunicação e o advento do digital produziram instrumentos que se tentam assemelhar à versão acústica, permitindo novas possibilidades. Qual é o músico que não estuda com phones à noite?
Mais info aqui: Tributo Helena Sá e Costa
