Transmissão Online 14 Abril
Coro Casa da Música
Sofi Jeannin direcção musical
Philippe Manoury Fragments d’Héraclite
Portrait Philippe Manoury II
Inspirada num passado já muito longínquo, com recurso a fragmentos de textos filosóficos da Grécia Antiga que se revelam surpreendentemente modernos, a partitura em programa foi escrita para coro triplo e teve a sua estreia nacional na Casa da Música, em Janeiro de 2020. A obra coloca em confronto ideias que podem ser vistas como antagónicas, ou talvez complementares: o fogo/o rio, a morte/o sono. Esta é a segunda transmissão da série dedicada a Philippe Manoury, compositor de referência da música francesa actual. Na direcção deste concerto esteve a prestigiada maestrina Sofi Jeannin, ex-titular da Maîtrise do Coro da Radio France e actual titular dos BBC Singers.
NOTAS AO PROGRAMA
Philippe Manoury Philippe Manoury Fragments d’Héraclite, para coro de câmara (2002-03) 1. Prologue 2. Cycle du feu et du fleuve 3. Cycle de la morte et du sommeil 4. Épilogue Os Fragments d’Héraclite (Fragmentos de Heráclito) foram compostos no mês de Dezembro de 2002. Esta é a minha segunda colaboração com o coro Accentus depois de Slova. Em primeiro lugar, fiz uma selecção dos 136 fragmentos conhecidos deste filósofo grego, reunindo-os em grupos de ciclos temáticos. Um filósofo profissional poderá talvez censurar-me por ter escolhido uma tradução em vez de outra. Responderei que foi sobretudo o ritmo musical da frase e o seu poder evocativo que chamaram a minha atenção nessa escolha. Três temas estão presentes, cada um deles apresentando uma oposição entre duas ideias principais: o fogo e o rio; a guerra e a unidade [tema não incluído nesta interpretação]; a morte e o sono. Cada tema constitui um ciclo que reúne 9 fragmentos. O conjunto é precedido por um prólogo e termina com um epílogo, sendo apenas utilizado um fragmento em cada um deles. A escrita musical desenvolve uma técnica de coro triplo: o coro I está no centro e os coros II e III nas extremidades. Cada coro é composto por um grupo misto de cerca de 12 cantores. Alguns cantores têm instrumentos de percussão que produzem sons de altura indeterminada, ora sublinhando as sílabas cantadas ora causando explosões sonoras. O objectivo é criar uma matéria sonora heterogénea que não actue como uma extensão das vozes, mas sim como uma espécie de “arcaísmo”. Porém, esse arcaísmo não pretende ser popular. Não se trata de criar uma Antiguidade sonora imaginária ou uma música “sem idade”. Estes textos reflectem certos fundamentos da nossa civilização e permanecem, por conseguinte, surpreendentemente modernos para os nossos ouvidos. Esses fundamentos são transformados nos componentes sonoros que formam as palavras, aqui na tradução francesa (não me parece que se saiba exactamente como eram pronunciados no idioma original). Assim, o mesmo texto é decomposto em diferentes níveis sobrepostos, dessincronizando e ressincronizando as consoantes e as vogais, antes de ser enunciado numa forma compreensível. Frequentemente, os fragmentos emergem do seu próprio material fonético. As texturas são muitas vezes compostas de forma polifónica, misturando diferentes camadas do mesmo material. O aspecto “fragmentado” destes textos (trata-se provavelmente de fragmentos de um livro desaparecido), bem como a selecção que fiz, influenciaram o meu trabalho numa divisão que nem sempre apresenta soluções de continuidade. Cada fragmento é composto como se estivesse centrado em si mesmo, sem preparação nem desenvolvimento. Também tentei ajustar cuidadosamente a espacialização dos eventos sonoros, bem como a sua distribuição em cada um dos três grupos de vozes. Philippe Manoury

