O NATAL DE CHARPENTIER · 23 Dez 2020
Como seria celebrar o Natal na Capela-Real de Luís XIV ou numa das catedrais da França do século XVII? Esta festividade celebrava-se com grande abundância musical, incluindo obras litúrgicas eruditas em latim, bem como antigas canções populares em francês – os célebres Noëls. Marc-Antoine Charpentier compôs uma vasta obra para esta época, e dela destacam-se as Antífonas do Ó, destinadas à novena do Advento que preparava a chegada do Natal, e várias oratórias que contavam a história do Natividade, intercalando o relato bíblico com textos devocionais, e dedicadas a cada um dos dias de festa, um pouco como Bach faria anos mais tarde na sua Oratória de Natal. O compositor revela nestas obras um olhar místico, particularmente sensível ao mistério sobrenatural da Encarnação, anunciada pelos profetas e cantada pelos anjos, mas também atento à frágil humanidade do Filho de Deus, nascido no meio da noite, do gelo e da pobreza. Uma visão mais prazenteira e popular desponta nos seus imaginativos arranjos instrumentais dos Noëls tradicionais, cantados pelas crianças durante o período das festividades, tanto nas ruas cobertas de neve como nas galerias de mármore das mais faustosas igrejas, nestes dias forradas a seda, veludo e ouro.