Playlist de Marcelo Caldi (acordeonista, pianista, compositor, arranjador e cantor)
Escolhi 13 músicas que representam muito bem a diversidade de sons que ouço desde minha infância. Filho de músicos que sou, tive acesso às mais variadas influências. A música caminha ao lado da diversidade, seja nas formações orquestrais ou nos solos, seja na música popular instrumental ou na canção de poesia rebuscada.O ciclo das Bachianas é uma das obras mais importantes do maior compositor brasileiro de todos os tempos, Villa-Lobos. Escolhida do primeiro movimento das Bachianas nº4, esta singela melodia sintetiza a melancolia brasileira. A obra foi feita originalmente para piano solo. Depois ganhou versão orquestral. O primeiro movimento é tocado apenas por orquestra de cordas. Otoño porteño é uma obra dentro das ‘Quatro estaciones porteñas’, de Astor Piazzolla. O tango de Piazzolla flerta com os opostos: momentos fortíssimos (quase violentos) e momentos delicados, de pura beleza. Destaque para o bandoneon, um instrumento que também usa o fole, da mesma família da sanfona brasileira.Capricho do Carmo é um dos 24 caprichos que Hamilton de Holanda compôs para bandolim solo. Neste ele faz uma referência à cidade natal de outro compositor brasileiro incrível, Egberto Gismonti.Children’s Corner contém uma série de pequenas peças compostas por Claude Debussy, compositor francês da virada do século XIX para o XX. Esta peça, o 1º movimento, remete aos meus aprendizados de piano na infância. Princesinha no choro é um choro instrumental do maior sanfoneiro que já existiu no Brasil, chamado Dominguinhos. Dominguinhos elevou a sanfona brasileira, influenciando diretamente a maneira de tocar de todos os sanfoneiros da atualidade.Riacho seco é uma linda música de João Lyra e Maurício Carrilho, uma dupla fundamental na composição instrumental popular brasileira e na educação musical através da linguagem do choro. O intérprete é Sivuca, o sanfoneiro que me tirou do chão quando ouvi, e me fez virar o sanfoneiro que sou hoje.Suburbano coração é uma linda valsa do maior cantautor (compositor que canta/interpreta suas canções) que o Brasil já viu nascer, Chico Buarque. Tenho muito apreço por esta música, que tem caminhos harmônicos e melódicos surpreendentes e que fala de um amor de subúrbio.Gramados é um forró do sanfoneiro e compositor Oswaldinho que descobri recentemente e estou adorando tocar. A obra de Oswaldinho é grande como a de Sivuca e Dominguinhos.Mpembe é uma canção do sanfoneiro Régis Gizavo, nascido em Madagascar. Tem um suíngue muito particular que me agrada e mesmo não entendendo as palavras do dialeto, sinto uma aproximação muito grande com as culturas negras que se enraizaram na América Latina.Ana Luisa é uma obra prima de Tom Jobim. Diferente da muito conhecida Luisa, gravada em 1986, Ana Luisa foi gravada muito antes, no LP Matita Perê, de 1973. E tem um arranjo especial de flautas que encanta os ouvidos.Nem cais, nem barco é uma parceria de Guinga e Aldir Blanc, outra dupla fundamental na evolução da canção brasileira. A interpretação de Leny Andrade merece destaque. A Suíte Retratos, do maestro e compositor Radamés Gnattali, é uma de suas obras mais famosas. Dedicada a Jacob do Bandolim, a suíte já ganhou versão de inúmeros instrumentistas brasileiros, como esta de Yamandu Costa e grupo. Radamés era compositor de música popular e de música de concerto. Cada movimento da suíte cita temas de um compositor brasileiro: I. Pixinguinha, II. Ernesto Nazareth, III. Anacleto de Medeiros… e no IV. (e último) movimento, sua dedicatória é para a maestrina, compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, fazendo menção à sua mais famosa música: ‘O Corta-jaca’.El saltarin é um merengue venezuelano do Ensemble Gurrufio, um grupo sensacional que explora ritmos tradicionais de seu país. Aqui, o ensemble divide sua interpretação com Hamilton de Holanda.
Marcelo Caldi